E a novidade era ... estava grávida. Em novembro de 2021 comentei com vocês sobre as expectativas para meados de 2022, eu certamente não queria expor naquele momento sobre a gestação, já que estávamos tão no comecinho, mas num piscar de olhos o meu mundo desmoronou ~ mais uma vez ~. Início de Dezembro, em uma consulta de rotina o coração do meu filho parou. Eu ainda não sabia, mas ali iria mudar toda a minha vida.
Ainda há detalhes dessa fase da minha história que irei guardar comigo, pois há detalhes que não diz respeito somente a mim mesma, e eu sempre irei preservar as pessoas que estiveram ao meu lado, independente de onde e como elas estejam agora.
O médico me orientou esperar o aborto espontâneo, já que eu não estava com nenhum risco, mas o aborto retido já era existente. Ele me deu o prazo de 1 semana e afirmou que isso aconteceria nesse prazo, mas se por ventura não acontecesse, nós iniciaríamos um procedimento para a retirada do bebê.
Não foi preciso, pois no dia 7 de Dezembro de 2021 apontou o primeiro vestígio. Um pequeno sangramento. E apesar de já saber o que estava por vir, o meu mundo caiu ali, eu não acreditava que aquilo estivesse acontecendo, eu orei tanto, me cuidei tanto mas nada adiantou. Dia 08 no final de tarde eu comecei a entrar em trabalho de parto. Primeiro foram as contrações, eram fraquinhas até ficarem tão intensas a ponto de me fazer quase desmaiar de dor.
Eu já sofri alguns acidentes que me machucaram muito fisicamente, mas a maior dor física e emocional que eu já senti na vida, sem sombra de dúvidas foi a dor do aborto. Eu passei pela mesma dor de parto, mas não tinha um bebê com vida, que estivesse vindo ao meu encontro.
Existe um momento da noite que eu já havia sofrido tanto que me despedi de todos, eu tinha certeza que naquele momento não era somente a dor de um aborto, era uma despedida de mim mesma com o resto do mundo. Eu já estava fraca e ele não me ajudava querendo sair, pois ele estava morto.
Deitei na cama com fraqueza e tentei dormir, pois eu estava MUITO cansada. A bolsa estourou. Levantei correndo mas não deu tempo. A água da bolsa saiu num piscar de olhos, então pensei.. agora vai. Mas não, em seguida era tanto sangue, mas tanto sangue que ocuparia uma banheira inteira. Juro! Sem exageros.
Por volta das 23 horas veio a pior dor de todas e num piscar de olhos sumiu, a dor foi embora como se nada tivesse acontecido. Era muito sangue que não dava para ver bebê nenhum. Liguei para o médido e ele disse que eu não iria ver mesmo, pois era muito pequenininho. Então ok. Deitei no chão. Aquela quantidade de sangue não salvaria o colchão. Forei uma parte com toalhas, me enrolei no roupão e ali fiquei até pegar no sono. No chão mesmo.
Acordei no dia 9, fui fazer minha última prova na faculdade (mesmo sem cabeça), chutei tudo e não sei como, tirei 10. O dia foi passando, eu estava paralisada com tudo o que eu havia vivenciado na noite anterior e estagnada. Mas... o pior ainda estava por vir. Não falei com ninguém, estava em choque mas estava bem. Não conseguia entrar no banheiro pelo trauma da noite passada, então esperei meu esposo chegar em casa para que eu me sentisse mais confortável em tomar banho, e assim eu fiz.
Nesse banho quando eu fui lavar as minhas partes íntimas senti algo diferente, o bebê ainda estava ali e precisava de ajuda para sair. E foi eu, mais uma vez. Depois de muita força e muito mais sangue, eu não sabia de onde vinha tanto sangue, para mim era um absurdo aquela quantidade, mas enfim, ele começou a aparecer. Segurei uma parte do corpinho dele e fui fazendo o máximo de força que eu ainda conseguia, e ele foi vindo aos poucos.
tela preta ~
Eu não queria olhar, mas ele cabia na palma da minha mão. Eu olhei... ele estava com os olhinhos marcados, mãozinhas, pesinhos, boquinha.. fotografei e mandei para o doutor. Exatamente nesse momento, NESSE MOMENTO, eu morri. É por isso que demorei tanto tempo para tocar no assunto. Venho tentando renascer desde então, mas conforme o tempo passa, mais eu morro por dentro.
Fim.
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